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Uma aventura no deserto do Saara


Desperdiçar dois dias de uma praia paradisíaca para literalmente morrer de calor no deserto após uma viagem de 5 horas num autocarro pode não parecer uma escolha muito sensata, mas confiem em mim, vale cada gotinha de suor!


Esta excursão, brilhantemente organizada pela Egotravel, propõe-nos uma aventura única, com mais de 350 quilómetros percorridos para o interior da Tunísia, de forma a explorar os 3 tipos de deserto existentes no país e dar a conhecer a cultura e costumes locais, tudo por pouco mais de 100€.


A aventura começa cedo, às 6h30 partimos do hotel com destino ao primeiro tipo de deserto, o deserto de sal. Quando saímos de Djerba para o interior é que conseguimos perceber realmente que já não estamos no conforto da União Europeia e sim num país subdesenvolvido, em que as estações de serviço são substituídas por bidões na berma da estrada com gasolina contrabandeada da Líbia, os talhos vendem carne pendurada no exterior e onde as normas e o bom senso na condução é inexistente (a sério, benzia-me sempre que o autocarro cruzava uma interseção).


À medida que avançámos pela estrada, a paisagem transforma-se e vai-se tornando cada vez mais árida. O Ayumb, o nosso guia, foi-nos descrevendo o que estávamos a observar, explicando o quotidiano e formas de sobrevivência num clima tão agressivo, onde coisas tão simples como, por exemplo, a obtenção de água, é um verdadeiro projeto de engenharia.


Quando finalmente chegamos a Chott El Djerid, ou como é conhecido, o lago de sal, estava um calor abrasador. Mal saímos do autocarro para aquela incrível paisagem branca, após um choque térmico brutal, sentimos o reflexo do sol nos cristais de sal a queimar-nos as pernas já recheadas de protetor solar. Aqui podemos tirar a famosa foto no barco naufragado com a bandeira da Tunísia.


Seguimos para o próximo destino, a cidade-oásis de Tozeur. Esta cidade resulta da simbiose perfeita entre um oásis natural e a cultivação de palmeirais, onde o cultivo de palmeiras-tamareiras se tornou uma das suas principais fontes de rendimento. A própria arquitetura é bastante característica, com os edifícios trabalhados em tijolo e decorados com imensas luzes.

Após o almoço, a única forma de sobreviver aos 47 graus Celsius que se faziam sentir era dentro da piscina do hotel onde ficamos alojados, na sombra (sim, porque o ar que inspirávamos queimava as narinas e qualquer parte do corpo exposta começava a arder ao fim de 2 minutos). 


É daqui que partimos para conhecer os restantes tipos de deserto, mas não sem antes dar um passeio de charrete pelos palmeirais na companhia da simpática Yasmin, a égua que graciosamente aguentou com o peso de quatro portugueses e um tunisino. 


Continuámos para o deserto de rocha, a bordo de jipes todo-o-terreno e preparados para um rali alucinante e realmente divertido pelas escarpas, numa paisagem que faz lembrar os filmes em solo marciano. Mais divertido, só mesmo sair do jipe debaixo de um calor infernal e obrigares a tua companheira de viagem subir uma rocha com uma altura considerável até a fazeres hiperventilar, certo Laura?


Quanto mais nos adentrámos pelo deserto, mais assustador é perceber o quanto isolados da civilização nos encontramos e a falta de recursos disponíveis, mas é isso mesmo que torna o momento especial, o facto de nos sentirmos frágeis e insignificantes mas ao mesmo tempo estarmos ali, no meio do deserto, ainda que a hiperventilar, a viver a maior aventura das nossas vidas.


Terminámos o dia no deserto de areia, a descer uma duna enorme, sentados no topo do tejadilho de um jipe que há algumas horas tinha ficado sem ar-condicionado e há instantes havia enterrado as rodas na areia. Isto tudo brindado com um por-do-sol incrível (apesar de haver quem diga que é igual em todo o lado).


Não esquecer que tem que haver tempo para, de rabinho para o ar, apanhar areia numa garrafa de água já esgotada, para mais tarde preciosamente guardar em frascos de vidro que irão decorar o teu WC. E claro, ser extorquido por uma foto com uma raposa-do-deserto e uma visita ao cenário esquecido do primeiro filme da saga Star Wars, não pode faltar.

Voltamos ao hotel e depois de jantar mergulhamos na piscina até ficarmos com a pele enrugada, para depois dormitar num quarto sem ar-condicionado, onde a tentativa de abrir as janelas para refrescar falhava miseravelmente.


Acordamos por volta das 3 da manhã, para seguir viagem de volta ao lago de sal. Naquele pedaço de terra aparentemente esquecido por Deus, a 150 quilómetros da Argélia, vi o fenómeno mais incrível que já pude presenciar, o nascer-do-sol. É inexplicável o que se sente quando no horizonte, por detrás das montanhas, começa a aparecer um pontinho laranja que se vai tornando cada vez mais intenso e, no mesmo instante, se instala o silêncio absoluto (um mérito louvável, num grupo de 100 portugueses).


Partimos de seguida para Douz, local também conhecido como Portas do Deserto, para um inesquecível passeio de camelo pelas dunas de areia branca, vestidos a rigor, de turbante na cabeça ao ritmo do trote e dos sons ruminantes dos animais.


No regresso a Djerba, paramos em Matmata, uma aldeia berbere onde visitamos as casas escavadas nas rochas e petiscamos pão artesanal com azeite e mel, oferecido pelas pessoas que ainda hoje lá vivem de forma humilde e sem Wi-fi.

A aventura não termina sem antes almoçarmos num restaurante típico, debaixo das rochas e sem nunca, adivinhem, mais uma avaria no autocarro que nos deixa sem ar-condicionado por boa parte do percurso, com direito a areia a cair-nos na cabeça do sistema de ventilação.


Posto tudo isto, penso que não preciso expor mais o quanto amei esta experiência e não devem hesitar mal vos surja a oportunidade. No entanto, dado o calor extremo, é importante referir que não é uma aventura para todos e deve ser bem ponderada, nomeadamente para grupos de risco, como idosos e crianças.

Para descobrires mais sobre a restante viagem à Tunísia, clica aqui.

Comentários

  1. A 5 dias de regressar a Djerba pela quarta vez em cerca de um ano, vou finalmente procurar fazer o passeio ao deserto e este relato na primeira pessoa é verdadeiramente inspirador. Obrigada

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    1. Fico mesmo feliz por ter gostado! É para isto que trabalhamos. Obrigado pelo feedback :)

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  2. Olá! Gostava de saber mais informações deste passeio ao deserto, comprou a viagem em Djerba ou cá em Portugal? E os hotéis no deserto? EStou a pensar partir de Djerba e fazer este passeio. Obrigada

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    Respostas
    1. Olá Liliana! Comprei diretamente no hotel em Djerba.
      O hotel do deserto era de 4 estrelas mas não correspondia, o AC estava avariado e a comida não era grande coisa. Mas também passámos lá muito pouco tempo, foi só o almoço, o jantar e dormir umas horas.
      É uma excursão cansativa mas é imperdível, vale muito a pena! Divirta-se :)

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  3. Olá Damiana! A nível de roupa recomendo algo confortável e transpirável, pois as temperaturas facilmente atingem os 50 graus, um bom protetor solar, calçado preparado para caminhar e muita água são também indispensáveis.
    Ora essa, mais alguma dúvida disponha :)

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  4. Olá.
    Já estive na Tunísia em tunis e fiz excursão ao deserto. Em djerba a excursão ao deserto é a mesma?
    Grata pela atenção.
    Augusta Marques

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